quinta-feira, 10 de junho de 2010

O "CORUJA" E A COPA DO MUNDO.

A Sandrinha é uma mulher tão pacífica, que ao ver a doce brisa bater suave nas ramagens baldias do jardim, "pálida de espanto", como diante da Via Láctea explodindo em seu último dia, pensa que aquele ventinho inocente é o inicio da terceira guerra mundial ou a chagada do Apocalipse. Que Deus a conserve assim.

Não posso acreditar que neste momento esteja eu aqui, disposto a falar sobre uma pessoa que à primeira vista, parecia não ter nada de especial. Só que nada deve ser julgado a partir de uma primeira vista. Chamava-se Clementina de Jesus, o que de saída já é uma curiosidade em virtude de ser o mesmo nome da grande cantora surgida em idade avançada e que encantou grandes plateias pelo mundo. Esta, recebeu em vida todas as homenagens a que fez justiça. A que está presente hoje nesta humilde coluna porem, não era cantora, nem atriz, nem isso, nem aquilo, nem o outro. Portanto nunca recebeu, por injustiça, qualquer homenagem publicamente. E olha que ela era uma delicia de pessoa, capaz de dizer, depois das "trocentas" cervejas, coisas assim:
- Eu sou uma pessoa nas seguintes condições: se alguém me trata bem, fico feliz; se me trata mal, fico puta - não é maravilhoso?
Todo mundo a chamava carinhosamente de Tininha e se divertia com os seus ditos pitorescos, cheios de uma sabedoria linear e deliciosamente populares. Adorava uma cerveja, da qual a ultima exigência que fazia, era que estivesse gelada. Chegava mesmo a ficar espantada quando via alguém dar importância a este, segundo ela, detalhe. Um dos filhos de meu irmão (não disse sobrinho, porque esta expressão poderia comprometer a minha honorabilidade, visto que ela é usada também para definir outro tipo de ligação, se me entendem) muito inteligente e gozador, costumava dizer que: "a Tininha só começa o dia depois de beber uma garrafa de Brahma". É óbvio que isso não era verdade, mas era perfeito. Ele a conhecia desde que nascera e se sentia com o direito de criar alguma caracteristica deliciosa a seu respeito. Ela quando soube de sua "calunia", gostou muito e disse sorrindo:
- Só sei passar roupa, tomando uma.
A casa deste irmão foi sempre uma festa amorosa, pois além dele, que é desde a infância um doce de pessoa, especialista em ironias e imitações tão jocosas que levam as pessoas a desmaiar de rir, casou-se com uma graça de mulher amiga e suave que lhe deu quatro filhos cheios de uma ternura ímpar. É incrível como as vezes a vida pode ser tão generosa. Ao reunir num mesmo conjunto familiar pessoas tão lindas, ela se redime de alguns pecados que tanto reprovamos e que estão espalhados pelo mundo feio tantas vezes.
Evidentemente sei que tecer elogios a familiares em público é vitupério, mas como hoje é um dia de festa no Brasil, pois vai ter inicio às três da tarde uma Copa do Mundo na África do Sul, cuja participação brasileira está preocupando o povo, eu precisei dar ao meu País um presente e nada poderia ser mais adequado do que lhe mostrar a face de uma família tipicamente brasileira, no que isto tem de mais alegre, honesto e bom. Comecei pela Tininha, por ter sido ela, em certa época, muito ligada a eles, mas na verdade o que desejo é agradecer à vida por me ter presenteado com estes parentes inteligentes, felizes, amigos e engraçados (virtude raríssima hoje). Alguém precisa de mais? Não creio. Do casamento de meu irmão Armando (como o avô) com a Sandra (Sandrinha), todos os frutos foram belamente bons, inclusive a terceira geração, os meu sobrinhos netos, que formam um quadro de tal encanto, que fica difícil mencionar, sem cair na mais deslavada louvação.
Muitos dos leitores desta coluna se perguntarão sobre a minha sanidade ao me ver, em publico, dizer que tenho nestes parentes maravilhosos um grande incentivo para continuar crendo na capacidade espiritual da família brasileira, que a tudo resiste.
É milagroso que haja num País massacrado pela corrupção, um espaço de dignidade, carinho, sensibilidade, amor, honestidade e vocação para a alegria, como em casa de meu irmão. Não estou apenas elogiando parte de minha família. Na realidade o que desejo é afirmar que em meio a todas as feiuras de nossa sociedade corrompida, há, espalhadas pelas cidades e pelos campos brasileiros, outras e outras gentes capazes do amor, da dignidade, da alegria e da beleza, que vejo naqueles que me são próximos. É talvez pelo cansaço causado pelos incessantes bombardeios dos noticiários, que me achei na contingencia de lembrar que os brasileiros não são apenas aqueles que roubam o povo, que tiram vantagem em negociatas, que matam a esperança, que se dedicam ao ódio e seus filhotes. Precisei lembrar, neste dia de festa, que há gente de primeira qualidade no Brasil, que nem de longe se parece com os monstrengos que fazem as delicias da midia assustadora.

Um comentário feito por minha funcionária doméstica, me deixou alerta, preocupado com uma visão cataclismica que se espalha por toda parte, que dá conta de que o mundo não tem mais jeito e que tudo está definitivamente perdido. Disse ela ao ver uma reportagem na TV sobre as rotineiras falcatruas dos políticos:

- É, acho que não tem mais ninguém de confiança neste Brasil.

Tem sim, Noemia. Um dia destes vou te levar para conhecer o Armando e sua família gloriosa, para que se restitua em seu espírito a esperança e a fé, neste mal tratado País. Posso ainda garantir Noemia, que a maioria dos brasileiros tem a mesma natureza e vocação. Apenas, gente de bem nunca está na midia.
Antes que o pano caia sobre esta comédia que tem sido a minha vida folgada, desejo estar mais vezes na companhia dos responsáveis pela garantia da felicidade de que todos precisamos. Sou muito preguiçoso e vejo pouco aqueles de quem lhes falo.Vou corrigir isso, embora para que amemos, não seja necessário estar sempre presente. Em todo caso, como vai ser uma delicia, vou passar um fim de semana com eles em sua casa de praia, onde a família recebe a todos com carinho, graça e drinks. É milagroso: dois dias com eles, fazem rejuvenecer vinte anos.
Mas antes de encerrar, preciso dizer que tenho, vindo por intermédio do Armando, um sobrinho neto, que em todos estes meus anos de paixão por crianças, nunca vi igual. Chama-se Gabriel e tem oito anos de vida. Porem, depois de conversar brevemente com ele, somos forçados a entender que as suas disposições verbalizadas com autoridade, são o que há de melhor em inteligencia pura e sagacidade hilariante. Um belo e encantador menino, que é a própria imagem da saúde e da alegria. Bravo Gabriel! Parabéns! Bendito sejas!


CLÁUDIO GONZAGA.

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