quarta-feira, 3 de março de 2010

BIBI





Quando alguem diz Pelé, Sinatra, Piaf, Chanel, Amália, Einstein, Shakespeare, não precisa dizer mais nada. Todos os conhecem assim mesmo, com uma só parte do nome. Poucas pessoas no mundo e na história, em qualquer época, pôde chegar a este estado de graça. É exatamente isto o que acontece com a BIBI. Tendo o mais ilustre sobrenome do teatro brasileiro, pode prescindir dele. Assim, a grande BIBI FERREIRA, que é para todo o Brasil simplesmente BIBI, ao ter o seu nome anunciado no cartaz de um teatro, antes de oferecer ao publico o que há de melhor em termos de acontecimento teatral, enche a cidade, seja qual for, da grande alegria que antecipa os grandes acontecimentos artísticos. É muito feliz a geração que tem a sorte de estar vivendo um tempo em que é possível presenciar uma artista deste quilate.Em dois ou em três tópicos apenas, vou lhes dar um pálido reflexo do que significa a existência de BIBI, na vida brasileira:
-GOTA D'ÁGUA-
O grande cartaz da temporada de 1975 foi o espetáculo "Gota D'água" de Paulo Pontes e Chico Buarque de Holanda. Este, em entrevista a mim, revelou que não se sentia o autor de "Gota D'água" Disse o Chico: "Na noite de estreia de Gota D'água", percebi que a verdadeira autora da peça era a sua criadora. Sem ela "Gota D'água" não teria sido o acontecimento que foi. Ela, a grande BIBI, tomou conta de todo o espetáculo com o seu talento de deusa do teatro e se tornou a sua autora. Não creio que seja possível que se repita uma criação tão perfeita desta peça, sem a BIBI. Os grandes do teatro involuntariamente fazem isso".
É claro que nenhum elogio é bastante para explicar a divindade teatral da BIBI FERREIRA. Mesmo assim, aí vai outro relato: fui assistir Gota D'água numa vesperal de domingo e no intervalo da primeira sessão para a segunda, tive o ímpeto de ir aos camarins cumprimentar a grande atriz. No caminho, encontrei-a sozinha, vestindo um robe cor de vinho. Ela não me notou e se dirigiu a alguem pedindo água sem gelo. Não tive coragem de falar com ela, porque o que estava diante de mim não era apenas uma atriz, entre uma sessão e outra. Era o próprio teatro se movendo grandioso e simples. Cada gesto seu ao acaso, cada meneio involuntário de cabeça, cada olhar brilhante e profundo, me punham diante de uma revelação artística de suma importância. Contentei-me, agradecido, em olha-la apenas, sem interromper o seu descanso merecido. Voltei para casa feliz de ter visto a BIBI em cena e fora dela. Ambas eram puro teatro no que isso tem de melhor e mais grandioso.

- BIBI CANTA PIAF-

A plateia da Maison de France estava lotada, pois a BIBI ia se apresentar cantando o seu indisputavel "BIBI canta Piaf". Todo o "grand monde" teatral estava presente. Numa das poltronas vi a Fernanda Montenegro que ao final de cada canção aplaudia como uma estudante entusiasmada. Já no agradecimento, foi a primeira a se levantar aos gritos de "bravo!". Corri aos bastidores a cumprimentar a BIBI, que usava um manto azul longo que trouxera vestido de cena. De repente surge a Fernanda, de braços estendidos e com o rosto coberto de pura emoção, diz incontida:

- BIBI, você é a minha maior referencia!

Diante disso nada mais precisa ser dito. Uma primeira atriz com o passado e a "estrada" profissional da Fernanda, quando afirma uma coisa assim, nos remete a Camões quando diz:
"Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta".
- O NASCER DE UMA VOCAÇÃO -
Era filha de um amigo e fazia naquele dia dez anos. Na véspera eu lhe dera entre outros presentes uma fita em VHS (à época não havia o DVD) com o espetáculo "BIBI IN CONCERT", em que a grande atriz se apresentava com a Orquestra Sinfonica Brasileira, regida pelo maestro Henrique Morelembaum e mais o coro do Theatro Municipal. Neste show a BIBI mostra quem é, e faz de gato, sapato. Arrebentou os nossos corações. Cantou de Gounod a Pixinguinha, passando por Noel Rosa e indo pelos caminhos do que há de melhor em fino humor teatral e a graça que é só dela.
A menina ficou alucinada com o presente e assistiu duas vezes o espetáculo. No dia seguinte, antes de se partir o bolo, manteve-se fechada no quarto a assistir a BIBI. Quando a sua mãe lhe exigiu a presença na sala batendo com força à porta, ela finalmente apareceu, mas havia um brilho novo nos seus olhos. Foram cumpridos os chatíssimos rituais de aniverssarios infantis, até que uma mulher, talvez para cumprir uma praxe, perguntou a aniversariante:
- O que você vai ser quando crescer, meu bem?
A resposta veio pronta e feliz:
- Quando eu crescer, quero ser BIBI FERREIRA!
E não é que ela já estuda teatro, dança, canto e se mostra uma atriz de imenso talento de jovem atriz? Além disso, não perde nada que a BIBI faça no teatro.

Temos ou não de agradecer à vida, por generosamente nos ter dado a BIBI?

CLÁUDIO GONZAGA.

















































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































































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