Quando alguem diz Pelé, Sinatra, Piaf, Chanel, Amália, Einstein, Shakespeare, não precisa dizer mais nada. Todos os conhecem assim mesmo, com uma só parte do nome. Poucas pessoas no mundo e na história, em qualquer época, pôde chegar a este estado de graça. É exatamente isto o que acontece com a BIBI. Tendo o mais ilustre sobrenome do teatro brasileiro, pode prescindir dele. Assim, a grande BIBI FERREIRA, que é para todo o Brasil simplesmente BIBI, ao ter o seu nome anunciado no cartaz de um teatro, antes de oferecer ao publico o que há de melhor em termos de acontecimento teatral, enche a cidade, seja qual for, da grande alegria que antecipa os grandes acontecimentos artísticos. É muito feliz a geração que tem a sorte de estar vivendo um tempo em que é possível presenciar uma artista deste quilate.Em dois ou em três tópicos apenas, vou lhes dar um pálido reflexo do que significa a existência de BIBI, na vida brasileira:
-GOTA D'ÁGUA-
O grande cartaz da temporada de 1975 foi o espetáculo "Gota D'água" de Paulo Pontes e Chico Buarque de Holanda. Este, em entrevista a mim, revelou que não se sentia o autor de "Gota D'água" Disse o Chico: "Na noite de estreia de Gota D'água", percebi que a verdadeira autora da peça era a sua criadora. Sem ela "Gota D'água" não teria sido o acontecimento que foi. Ela, a grande BIBI, tomou conta de todo o espetáculo com o seu talento de deusa do teatro e se tornou a sua autora. Não creio que seja possível que se repita uma criação tão perfeita desta peça, sem a BIBI. Os grandes do teatro involuntariamente fazem isso".
É claro que nenhum elogio é bastante para explicar a divindade teatral da BIBI FERREIRA. Mesmo assim, aí vai outro relato: fui assistir Gota D'água numa vesperal de domingo e no intervalo da primeira sessão para a segunda, tive o ímpeto de ir aos camarins cumprimentar a grande atriz. No caminho, encontrei-a sozinha, vestindo um robe cor de vinho. Ela não me notou e se dirigiu a alguem pedindo água sem gelo. Não tive coragem de falar com ela, porque o que estava diante de mim não era apenas uma atriz, entre uma sessão e outra. Era o próprio teatro se movendo grandioso e simples. Cada gesto seu ao acaso, cada meneio involuntário de cabeça, cada olhar brilhante e profundo, me punham diante de uma revelação artística de suma importância. Contentei-me, agradecido, em olha-la apenas, sem interromper o seu descanso merecido. Voltei para casa feliz de ter visto a BIBI em cena e fora dela. Ambas eram puro teatro no que isso tem de melhor e mais grandioso.
- BIBI CANTA PIAF-
A plateia da Maison de France estava lotada, pois a BIBI ia se apresentar cantando o seu indisputavel "BIBI canta Piaf". Todo o "grand monde" teatral estava presente. Numa das poltronas vi a Fernanda Montenegro que ao final de cada canção aplaudia como uma estudante entusiasmada. Já no agradecimento, foi a primeira a se levantar aos gritos de "bravo!". Corri aos bastidores a cumprimentar a BIBI, que usava um manto azul longo que trouxera vestido de cena. De repente surge a Fernanda, de braços estendidos e com o rosto coberto de pura emoção, diz incontida:
- BIBI, você é a minha maior referencia!
Temos ou não de agradecer à vida, por generosamente nos ter dado a BIBI?
CLÁUDIO GONZAGA.
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