ACHO QUE TODO MUNDO CONHECE AQUELE TIPO DE GENTE QUE AO VER ALGUÉM ESCREVENDO À MÃO COM UMA LETRA BEM GRANDE, VEM LOGO DIZER: "ESTE SUJEITO É UM EXIBICIONISTA! GOSTA DE SE MOSTRAR"! SE O CAMARADA ESCREVE COM UMA LETRINHA DIMINUTA, O COMENTÁRIO É: "TEM COMPLEXO DE INFERIORIDADE! É INSEGURO"! OU AINDA: "ESTA LETRA INCLINADA PARA A DIREITA SIGNIFICA QUE..." (e diz uma barbaridade). "ESTA LETRA BICUDA QUER DIZER QUE ESTE SUJEITO É UM FILHO DA... (e diz o palavrão). DEVÍAMOS PODER MATAR ESTAS PESSOAS E SAIR DO LOCAL ASSOBIANDO ATIREI O PAU NO GATO, COM PROTEÇÃO POLICIAL. JÁ SOU UM SUJEITO VELHÍSSIMO E DESDE CRIANÇA OUÇO ESTE TIPO DE COMENTÁRIO DOS "PSICÓLOGOS", SOBRE MANUSCRITOS.
HOJE AQUI VOU HOJE FAZER A "DEFESA" DOS "LETRAS FEIAS". ISTO É, DAQUELES QUE NÃO SE PREOCUPAM EM TORNAR OS SEUS TEXTOS À MÃO EM OBRAS DE ARTE. NUM PASSADO BEM REMOTO O "BOA LETRA" TINHA UM CARTAZ DANADO. ARRANJAVA ATÉ EMPREGO POR CAUSA DISSO.
OUTRO DIA, CONVERSANDO FIADO EM UM BOTEQUIM, UM BÊBADO ME DEU POR ESCRITO O SEU E-MAIL. ESTE SUJEITO PRECISA SER DESCRITO NO GERAL, PARA SÓ DEPOIS DESCREVERMOS A SUA LETRA. COMO ACHO QUE NÃO NOS ENCONTRAREMOS MAIS, POSSO PORMENORIZAR COM EXATIDÃO A SUA FIGURA E MANEIRA DE SER. SE HOUVESSE A POSSIBILIDADE DE REENCONTRA-LO OU DE SABÊ-LO MEU LEITOR, VÓS SERIEIS POUPADOS DE CONHECER ESTA FIGURA DE TODO ÚNICA. ELE ERA ASSIM: ESQUELÉTICO (magreza feia), AGITADO NOS BRAÇOS, DE ROSTO MUITO FEIO ( ossos feios, como se ele tivesse, por acidente, batido de frente com um caminhão), FALASTRÃO, BURRO, FÚTIL, INQUIETO, PEGAJOSO, AUTO REFERENTE, ATENTO A TUDO O QUE SE PASSA À VOLTA, VOCABULÁRIO RALO, PERCEPÇÃO POBRE. A ISSO PODE-SE SOMAR O COSTUME DE USAR PALAVRAS SOLTAS EM INGLÊS OU FRANCÊS, SEM, NO ENTANTO, CONHECER ESTES IDIOMAS. ISSO FICAVA ÓBVIO.
AGORA, O RECHEIO DESTE "ACEPIPE" DE BOTEQUIM: QUANDO ME ENTREGOU O GUARDANAPO DE PAPEL COM O SEU E-MAIL, VI A MAIS BELA DAS LETRAS: SIMETRIA PERFEITA, REVOLTANTEMENTE PERFEITA, HOMICIDAMENTE PERFEITA, REPUGNANTEMENTE PERFEITA. NUM MUNDO MELHOR AQUELA LETRA LEVARIA O SEU AUTOR À FORCA OU À FOGUEIRA.
NESTE PONTO, PARA SOMAR PORCARIA À MIXÓRDIA, DIREI QUE EU ESTAVA, NAQUELE DIA, LEVANDO UMA PASTA DE PAPELÃO COM ORIGINAIS DE DESENHOS DE JEAN COCTEAU, EM CRAYON, ONDE O GRANDE ARTISTA ESCREVIA VEZ POR OUTRA, ALGUM COMENTÁRIO DE PASSAGEM. POIS NÃO É QUE O F. DA P. ME PEDIU PARA VER O QUE HAVIA NA PASTA E OLHANDO AS LINDOS DESENHOS COMENTADOS PELO AUTOR, LHE FEZ CRITICAS À LETRA? HAVIA ENTRE TODOS O DESENHO QUE ESTÁ HOJE ENCABEÇANDO ESTA COLUNA, EM QUE COCTEAU DEFINE O QUE DEVE SER UM POETA A SEU VER. UMA BELA DEFINIÇÃO, FEITA NUM CAFÉ EM MONTMARTRE EM 1960. ALGUÉM PODE IMAGINAR QUE A LETRA DE COCTEAU FOI CRITICADA POR AQUELA CAVEIRA MAL VESTIDA? VOU PARAR POR AQUI SENÃO DOU CURSO A MINHA INSÂNIA E VOU À RUA PROCURAR POR ELE E MATÁ-LO.
CLÁUDIO GONZAGA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário